A Banda Desenhada
Franco-Belga tem esta denominação por se tratar de obras desenvolvidas por
autores belgas e franceses.
Infelizmente no Brasil este
estilo de Arte é pouco difundido, começando pelo nome "história em
quadrinhos" que sugere a uma coisa pejorativa destinada para crianças.
Pelo contrário, a Banda Desenhada ao longo de sua rica história demonstra ser
uma Arte destinada para um público mais adulto e bastante seletivo. As editoras
brasileiras não tem muito interesse em publicar suas histórias por questões que
não sabemos. Por aqui só encontramos albuns de Tintin, Axterix e Luchy Luke em
acabamentos bastante modestos.
A Banda Desenhada
Franco-belga possui muito mais histórias e personagens do que os citados, será
propósito do site abordar estas obras primas tão pouco conhecidas no Brasil.
Origem e Estilo
Na Europa quando falamos de
Banda Desenhada (BD), logo vem ao pensamento a Bélgica como percursora da Nona
Arte no antigo continente. A produção de BD dos autores e desenhistas belgas é
de longa tradição, encantando o mundo até os dias de hoje. Fato que influenciou
muitos artistas franceses a seguirem a mesma linha de estilo.
O termo Banda Desenhada,
“Bandes Dessinées”, foi criado por estes artistas objetivando distinguir seu
estilo, que é muito diferente dos comics americanos, as histórias em quadrinhos
brasileiras entre outros, no qual, consideramos duas distinções principais
entre a escola de artistas franco-belga e os demais citados.
O primeiro é o estilo do
desenho e cores, denominado Linha Clara,
tendo como percursor Hergé , o criador do mais famoso personagem de BD
europeia, Tintin.
O estilo da Linha Clara foi
adotado por Hergé a partir de 1929 com a primeira aventura de Tintin publicada
como tiras semanais no jornal belga “Le XX Siécle”.
Ela consiste em desenhos de traços
simples e espessura regular, inspirado nas artes expressionistas que estavam
proliferando nos meados dos anos de 1920 em diante, como podemos observar no
desenho abaixo publicado no álbum Tintin na América.
O segundo aspecto consiste na
extensa pesquisa realizada pelos autores franco-belgas, que permite detalhar em
seus enredos histórias de aventuras mescladas com perspectivas urbanísticas,
sociais e econômicas do mundo contemporâneo.
É de um nível de excelência
muito elevado a exatidão dos desenhos que englobam locais, automóveis, aviões
ou mesmo personagens com o mundo real.
Tibet e A.P. Duchateau (Ric Hochet)
|
Por estes dois motivos, ao
longo de sua rica história a BD franco-belga demonstrou ser uma Arte destinada
para um público jovem e adulto, porém bastante seletivo. Neste contexto, faço
uma pequena comparação de seu estilo narrativo com a série Jornadas nas Estrelas
de Gene Roodenberry , na qual seu criador procurava abranger em seus roteiros
contextos sociais que eram transpostos para outas galáxias.
Evolução
As décadas de 1930 e 40 foram
bastante conturbadas no contexto mundial, o pensamento capitalista predominante,
ainda embasado pela doutrina da “mão
invisível” como reguladora da economia cai por terra com a crise de 1929,
transpondo para uma crise econômica mundial. Por outro lado, o antigo
continente houvera sido o principal palco da primeira grande guerra, 1914-1919,
e ainda estava recolhendo os cacos na década de 1930, olhando para um futuro
sombrio que estava no ar com a ascensão do fascismo/nazismo predominado por
Alemanha e Itália, e a guerra civil espanhola iniciada em 1936.
Com este cenário conflituoso
de cerceamento da individualidade, do coletivo e das ideias, devemos fazer um
esforço em nossa imaginação de como eram os sentimentos e pensamentos no mundo
europeu naquele período.
No mundo da BD franco-belga, podemos
considerar que todas estas sensações de incertezas e medos passados e futuros
estavam no pensamento diário dos futuros artistas.
A BD franco-belga toma um
impulso importante a partir dos anos de 1940, embora no contexto de uma Europa em
guerra, 1939-1945, e, pós guerra que começava a iniciar sua reconstrução física
e emocional.
No contexto do universo da
BD, podemos distinguir três momentos importantes.
A primeira delas é a
colorização dos primeiros álbuns de Tintin, até então os mesmos eram em preto e
branco.
Em um segundo instante, em 1944, Hergé conhece o
belga Edgar Pierre Jacobs no qual fazem uma grande amizade. O pai de Tintin acaba
convidando Jacobs para ajuda-lo na colorização dos álbuns de Tintin.
1- Ilustração – Stanislas
(1999)
|
A parceria entre os dois amigos possibilitou uma sinergia bastante criativa que durou dois anos. Por um lado, Hergé passou a contar com um ótimo colaborador, e por outro, Jacobs inicia seus passos na criação de um estilo próprio de Linha Clara, tornando-se um dos mais importantes artistas da BD criando os personagens Blake e Mortimer em 1946, que são sucesso até hoje.
Capa da terceira aventura de Blake e Mortimer |
O terceiro movimento
importante aconteceu em 26 de setembro de 1946 com o lançamento da Revista
Tintin.
Tratava-se de uma revista
semanal cujo objetivo era publicar histórias de Tintin como “carro chefe”,
permitindo a outros novos autores que estavam surgindo no cenário belga e
francês um campo extraordinário para demonstrarem seus trabalhos. O
semanário consistia na publicação de cada história em formato seriado de duas
ou três páginas por cada exemplar, além de artigos sobre os temas propostos. O
sucesso da Revista Tintin tornou-se um marco divisório na BD, ao dar vida a
criação artística. A revista belga permaneceu ativa até 1988.
Em Portugal, a Revista Tintin
foi inaugurada em 1968 “constituindo um
marco histórico no panorama português das publicações periódicas de banda
desenhada”, ver (www.tralhavarias.blogspot.com.br).
Revista Tintin n° 1
Edição portuguesa
|
No Brasil a revista foi
publicada em 1968 pela editora Bruguera (ligada à Cedibra), mas infelizmente
ela durou apenas seis meses, enquanto que em Portugal durou quase 15 anos...
“Essa história nós
brasileiros colecionadores conhecemos muito bem, lança-se um produto com data
de validade indefinida por falta de conhecimento de nossos editores sobre o
mercado etc, e um dia qualquer deixa-se de circular sem maiores explicações. Quem
sabe Columbo descubra os motivos e nos dê a resposta um dia”.
Graças a Revista Tintin
belga, vários artistas foram conquistando seu espaço como: Albert Uderzo e René
Goscinny (Asterix, 1959), Edgar Pierre Jacobs (Blake e Mortimer, 1946), Jackes
Martins (Alix, 1948 e Lefranc, 1952), Bob de Moor (Barelli), Tibet e A.P.
Duchateau (Ric Hochet, 1955) entre muitos outros.
Capa de álbuns |
Novas gerações de artistas da
BD
As décadas de 1980 e 1990 apresenta uma nova
geração de artistas franco-belgas que dão continuidade aos ideais da BD
iniciados por Hergé e seus seguidores. A qualidade de seus trabalhos estão nos
mesmos níveis dos artistas clássicos que surgiram na década de 1950 em diante,
com contribuições de uma importância inestimável para as novas gerações de
colecionadores e fãs da BD franco-belga. Podemos citar como exemplos, Jean Van
Hamme e Yves Sente (Thorgal, XIII e sequência de Blake e Mortimer), André Juillard
(Arno, Mezek e sequência de Blake e Mortimer), Vittorio Giardino (As aventuras
de Max Fridman e Jonas Flink), entre outros.
Capa de álbuns |
Os enredos apresentados por
estes artistas estão calcados principalmente em temas com maior discussão
social e política, debatendo questões sobre guerras, fascismo, poder econômico,
bem como novas inovações tecnológicas etc.
A magia destas obras está na
forma em que souberam colocar estes assuntos como “pano de fundo”, tornado
assim, grandes histórias de entretenimento com conteúdo.
Destacamos Jacques Tardi,
cujos trabalhos possuem uma forte crítica sociológica do mundo contemporâneo,
podendo citar alguns de seus trabalhos:
Adéle Blanke (1976), Era a
guerra das Trincheiras (1993), Puta Guerra (2008), O Grito do Povo (2001-2004),
Nestor Bruma baseado nos livros de Léo Malet
(1982-200), entre muitas outras produções.
Obra de Tardi |
Considerações Finais
O propósito do texto
apresentado procurou fazer uma abordagem sobre a história da BD franco-belga e
alguns de seus principais artistas. Por ser um tema muito rico, ficaram de fora
detalhes ou artistas. Desta forma, pela
complexidade do assunto e sua importância, estamos abertos a contribuições de todos vocês
leitores.
Os próximos textos procurarão
enfocar os Artistas e seus personagens, começando por Tintin.
Referencias Bibliográficas
FARR, Michael. “Tintin, o
sonho e a realidade.”
PT, Difusão Verbo, 2001.
Bocquet, Fromental (textes)
& Stanislas (dessins).
Les Aventures d’Hergé.
Paris, Éd. Reporter, 1999, 56 p.
Revista Tintin-1968/82
RIVIÉRE, François.
“Trajetórias e labirintos do medo na obra de Jacobs. Texto extraído da Revista Tintin.
PT
Sitio Tralhas Várias –
www.tralhasvarias.blogspot.com.br
www.tralhasvarias.blogspot.com.br
Sitio Las Aventuras de Blake
e Mortimer –Autor: Miguel Frognier
www. blake-y-mortimer.frognier.es
Parabéns pelo blog, João. Excelente! :)
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